19/2/2008
Vítimas de contaminação exigem assistência de empresas do pólo
Flávio Costa e Carmen Azevêdo
Um grupo de 42 moradores do Loteamento Parque Real Serra Verde acampa desde a

Dez mil litros de um coquetel de substâncias tóxicas, entre elas os organoclorados Endosulfam I e II (usados na composição de pesticidas), foram jogados numa área de aproximadamente dez mil metros quadrados na entrada do loteamento. A 100m da Estrada da Cascalheira, o lugar abriga cerca de 350 pessoas de 59 famílias. Mais de um ano e meio depois, a investigação conduzida pelo Ministério Público Estadual ainda não apontou os culpados pelo crime. O órgão entrou com uma ação civil pública contra a prefeitura de Camaçari pela prestação de serviços médicos insuficientes às vítimas.
O que não faltam são relatos de sofrimento causado pelo crime ambiental. Os manifestantes prometem ficar no local até que todas as reivindicações sejam atendidas. “Hoje estou doente e não posso plantar nada na minha roça. Não tenho como alimentar minha família”, diz o agricultor Jesus Barbosa, 59 anos.
Febre, dores de cabeças, vômitos, formigamento nas mãos e nos pés, sensação eterna de cansaço. Estes são sintomas que ainda assolam os habitantes do Parque Real Serra Verde. Exames médicos detectaram a presença de substâncias tóxicas no sangue de pelo menos 20 moradores. “Meu filho tem 2 anos e não consegue andar direito, não brinca como as outras crianças. Ele tem problemas respiratórios e toda hora aparecem manchas no corpo dele”, diz a dona de casa Edna Souza Santos, 33.Mortes - Duas mortes foram atribuídas à contaminação. A moradora do loteamento Eufrozina Vieira de Santana, supostamente contaminada, morreu em janeiro de 2007, quando caiu na rua por causa de intensa vertigem e bateu a cabeça. A segunda morte foi de um técnico da Defesa Civil de Camaçari, que teve contato direto com as substâncias tóxicas. O coordenador geral do órgão municipal, Ademar Lopes, por sua vez, nega. “O funcionário, cujo nome não foi revelado, foi vítima de câncer. Ele já estava doente antes do acidente”, diz.
O líder socio ambiental Arailton Rodrigues(Rodrigo) afirma que as indústrias de Camaçari “têm responsabilidade social” com as vítimas e são obrigadas a prestar apoio.
Na época da contaminação, equipes do Centro de Recursos Ambientais (CRA), da Secretaria de Saúde do Município, da Empresa de Proteção Ambiental S/A (Cetrel) e Pólo Petroquímico estiveram no local para avaliar os danos causados pelo coquetel químico. A análise do líquido feita pela Cetrel constatou a presença de 15 substâncias tóxicas, a maioria produzida no pólo, à exceção de Endosulfam I e II.
***
Lista de reivindicações
Ontem, uma lista com reivindicações foi entregue ao superintendente de Desenvolvimento e Comunicação do Cofic, Érico Oliveira, durante a reunião à tarde. São elas: a feitura de um relatório completo sobre a viabilidade do solo para moradia e economia de subsistência; potabilidade da água das fontes e poços da região afetada; disponibilização de local de moradia para as pessoas que não possuem condições de permanecer no loteamento; a recuperação do brejo Munde, onde ainda existe grande concentração de substância química. Os manifestantes aguardam ainda a chegada do presidente do Cofic, Manoel Carnaúba, que está em São Paulo, para que possam retomar as negociações. “Não saímos satisfeitos da reunião: eles quiseram repassar a responsabilidade para a prefeitura. Mas há um ano e seis meses estamos nesta luta, não queremos mais procurar o poder público municipal”, diz Rodrigues.
Érico Oliveira, contudo, afirma que o Cofic não pode assumir a responsabilidade sobre um crime que não cometeu. “Alguns pontos da pauta já foram contemplados na época em que aconteceu o despejo”. Ele acrescenta que as investigações não apontaram uma única empresa do pólo que esteja envolvida no crime. “Uma hipótese provável é que uma outra empresa tenha feito uma lavagem aqui”. Ele citou ainda que chegou a oferecer intermediação na negociação com o poder público, que teria sido negada pelos manifestantes. “A prefeitura também ofereceu cesta básica e outros itens como a isenção da taxa de água por um determinado prazo, mas eles não aceitaram, disseram que não atendemos à principal reivindicação, que é a da indenização das famílias”, completou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário