sábado, 8 de março de 2008






19/2/2008
Vítimas de contaminação exigem assistência de empresas do pólo




Flávio Costa e Carmen Azevêdo
Um grupo de 42 moradores do Loteamento Parque Real Serra Verde acampa desde a manhã de ontem em frente à sede do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic). Alguns manifestantes prenderam-se por correntes. Eles exigem ajuda da associação que reúne as indústrias do Pólo Petroquímico, principalmente financeira, para as 300 famílias que foram vítimas de contaminação pelo despejo clandestino de produtos químicos na região do condomínio. Munidos de colchonetes, redes e alimento, os manifestantes não têm prazo para deixar o local. Ontem, após uma hora de negociação com o Cofic e representantes do poder municipal, eles não chegaram a um acordo.
Dez mil litros de um coquetel de substâncias tóxicas, entre elas os organoclorados Endosulfam I e II (usados na composição de pesticidas), foram jogados numa área de aproximadamente dez mil metros quadrados na entrada do loteamento. A 100m da Estrada da Cascalheira, o lugar abriga cerca de 350 pessoas de 59 famílias. Mais de um ano e meio depois, a investigação conduzida pelo Ministério Público Estadual ainda não apontou os culpados pelo crime. O órgão entrou com uma ação civil pública contra a prefeitura de Camaçari pela prestação de serviços médicos insuficientes às vítimas.
O que não faltam são relatos de sofrimento causado pelo crime ambiental. Os manifestantes prometem ficar no local até que todas as reivindicações sejam atendidas. “Hoje estou doente e não posso plantar nada na minha roça. Não tenho como alimentar minha família”, diz o agricultor Jesus Barbosa, 59 anos.
Febre, dores de cabeças, vômitos, formigamento nas mãos e nos pés, sensação eterna de cansaço. Estes são sintomas que ainda assolam os habitantes do Parque Real Serra Verde. Exames médicos detectaram a presença de substâncias tóxicas no sangue de pelo menos 20 moradores. “Meu filho tem 2 anos e não consegue andar direito, não brinca como as outras crianças. Ele tem problemas respiratórios e toda hora aparecem manchas no corpo dele”, diz a dona de casa Edna Souza Santos, 33.Mortes - Duas mortes foram atribuídas à contaminação. A moradora do loteamento Eufrozina Vieira de Santana, supostamente contaminada, morreu em janeiro de 2007, quando caiu na rua por causa de intensa vertigem e bateu a cabeça. A segunda morte foi de um técnico da Defesa Civil de Camaçari, que teve contato direto com as substâncias tóxicas. O coordenador geral do órgão municipal, Ademar Lopes, por sua vez, nega. “O funcionário, cujo nome não foi revelado, foi vítima de câncer. Ele já estava doente antes do acidente”, diz.
O líder socio ambiental Arailton Rodrigues(Rodrigo) afirma que as indústrias de Camaçari “têm responsabilidade social” com as vítimas e são obrigadas a prestar apoio.
Na época da contaminação, equipes do Centro de Recursos Ambientais (CRA), da Secretaria de Saúde do Município, da Empresa de Proteção Ambiental S/A (Cetrel) e Pólo Petroquímico estiveram no local para avaliar os danos causados pelo coquetel químico. A análise do líquido feita pela Cetrel constatou a presença de 15 substâncias tóxicas, a maioria produzida no pólo, à exceção de Endosulfam I e II.
***
Lista de reivindicações
Ontem, uma lista com reivindicações foi entregue ao superintendente de Desenvolvimento e Comunicação do Cofic, Érico Oliveira, durante a reunião à tarde. São elas: a feitura de um relatório completo sobre a viabilidade do solo para moradia e economia de subsistência; potabilidade da água das fontes e poços da região afetada; disponibilização de local de moradia para as pessoas que não possuem condições de permanecer no loteamento; a recuperação do brejo Munde, onde ainda existe grande concentração de substância química. Os manifestantes aguardam ainda a chegada do presidente do Cofic, Manoel Carnaúba, que está em São Paulo, para que possam retomar as negociações. “Não saímos satisfeitos da reunião: eles quiseram repassar a responsabilidade para a prefeitura. Mas há um ano e seis meses estamos nesta luta, não queremos mais procurar o poder público municipal”, diz Rodrigues.
Érico Oliveira, contudo, afirma que o Cofic não pode assumir a responsabilidade sobre um crime que não cometeu. “Alguns pontos da pauta já foram contemplados na época em que aconteceu o despejo”. Ele acrescenta que as investigações não apontaram uma única empresa do pólo que esteja envolvida no crime. “Uma hipótese provável é que uma outra empresa tenha feito uma lavagem aqui”. Ele citou ainda que chegou a oferecer intermediação na negociação com o poder público, que teria sido negada pelos manifestantes. “A prefeitura também ofereceu cesta básica e outros itens como a isenção da taxa de água por um determinado prazo, mas eles não aceitaram, disseram que não atendemos à principal reivindicação, que é a da indenização das famílias”, completou.









Nenhum comentário: