quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Análise constata contaminação em Camaçari

22/03/2007
Análise constata 15 substâncias tóxicas em distrito de Camaçari-Bahia





Graciela Alvarez______________( Este é um dos sintomas de contaminação )
O inquérito civil que apontará os responsáveis pelo despejo de um produto químico na entrada do Loteamento Parque Real Serra Verde (distrito de Camaçari), na madrugada do dia 22 de junho do ano passado, já está quase concluído. A análise do líquido feito pela Cetrel – Empresa de Proteção Ambiental S/A, a pedido do Ministério Público (MP), constatou a presença de 15 substâncias tóxicas, a maioria produzida no Pólo Petroquímico de Camaçari.
Para concluir o processo, o MP só está aguardando a resposta de uma empresa petroquímica do Ceará que produz endosulfan (I e II), única substância encontrada que não é produzida no pólo, para saber qual empresa do complexo compra o produto. A partir daí, o MP espera apontar todos os responsáveis pelo crime ambiental.
O laudo conclusivo da Cetrel revela que os solos e águas subterrâneas do local encontram-se infectados por componentes orgânicos voláteis (sobretudo xilenos e etilbenzenos) e também por pesticidas. Os córregos Mundré e Eldorado também foram afetados pelos produtos químicos. Por isso, muitos dos moradores, que consumiam água vindas de poços artesianos foram intoxicados.
Para amenizar a situação, a Embasa isolou os poços e instalou água encanada nas casas. Segundo a dona de casa Claudinéia dos Santos, 24 anos, logo após o despejo do produto, a água tinha um gosto muito forte. “Era impossível beber, mas na falta era a única opção”, conta, informando que só há dois meses teve água encanada.
A retirada de mais de 1.500 toneladas de solo contaminado foi outra medida adotada pela órgão de defesa civil de Camaçari. No entanto, somente após quase dois meses do acidente, a Secretaria de Saúde do município realizou a coleta de sangue, fezes e urina da população para confirmar a intoxicação. Segundo o líder comunitário Araílton Rodrigues, os exames foram realizados em duas etapas – uma parte das pessoas no início de agosto e a outra há cerca de 50 dias. Ele conta que os resultados dos exames, feitos por um laboratório especializado em toxicologia de Minas Gerais, só começaram a ser entregues pela Secretaria de Saúde há dois meses, e ainda assim depois de protestos na imprensa. As pessoas que fizeram depois ainda não receberam os laudos – situação que incomoda e muito a população. “Meu marido tem o direito de saber o que ele tem”, exalta-se a aposentada Hildete Matos, 71 anos.
Acompanhamento – Segundo o diretor da Vigilância em Saúde de Camaçari, órgão responsável pela avaliação e monitoração da população atingida, Ademar Vilela, a prefeitura está prestando todo o apoio às vítimas, desde os exames laboratoriais, até avaliação e acompanhamento médico. Quando questionado sobre a demora para entrega dos resultados, ele afirma que isso é apenas uma medida de prevenção. “As pessoas podem se assustar com o resultado e ter uma reação inesperada. Por isso, preferimos que os médico, façam esta avaliação e expliquem tudo de forma correta”, justifica, informando que todos que fizeram os exames já estão com consultas agendadas para a avaliação com médicos especializados, inclusive com um toxicologista.
A declaração, no entanto, é contestada por Hildete: “Todas as vezes que passamos mal somos atendidos por um clínico geral. Da última vez, um deles mandou que eu procurasse um psicólogo.”Apesar dos médicos acreditarem que muitos dos sintomas apresentados pela população são devidos a situação de estresse causada pelo ocorrido, o resultado do exame de Claudinéia Santos constatou que a sua quantidade de ácido hipúrico (a sua concentração está relacionada à exposição ocupacional ao tolueno) está acima do aceitável. Por causa do valor alterado, o laboratório repetiu o exame e novamente foi comprovada a dosagem.
Já a análise da moradora Maria Nilza dos Santos constatou a presença de inseticida do grupo organoclorados, no valor de 6,4 ppb, sendo que para esta substância não existe valor de referência – ou seja, só o fato da sua presença já constata a intoxicação. “Cerca de 40% das pessoas que realizaram os exames tiveram uma alteração significativa no resultado”, relata Rodrigues.
***Trezentas pessoas intoxicadas
Foram despejados numa área de cerca de dez mil metros quadrados do Loteamento Parque Real Serra Verde cerca de dez mil litros do produto químico, intoxicando 300 pessoas, totalizando 59 famílias. No dia do acidente, o cheiro forte do produto – que segundo os moradores se assemelhava ao do GLP (gás de cozinha) – causou mal-estar nos moradores da região, que se queixaram de fortes dores de cabeça, náuseas e tontura.
Hoje, após nove meses, muitos deles ainda reclamam de alguns desses sintomas, a exemplo do cansaço constante. É o caso de Claudinéia Santos, que chegou a ser internada há 15 dias no Hospital Geral de Camaçari, após apresentar dor de cabeça, fraqueza e febre – sintomas comuns aos da época do acidente. “Depois dessa tragédia todos os dias sinto fortes dores de cabeça”, declara, garantindo nunca ter sentido nada disso antes.
Na época, muitas pessoas que não tinham para onde ir ficaram abrigadas no centro comunitário do município. Metade das famílias deixou local e foi para casas de parentes e amigos. Esse foi o caso do filho do comerciante Reginaldo Bonfim Nascimento, de apenas 9 anos, que precisou se mudar para a casa de uma tia em Salvador porque a escola onde estudava foi fechada. Ainda sem apresentar muitos sintomas, apenas leves dores nas pernas, a criança foi uma das mais contaminadas pelo produto. “Essa irresponsabilidade causou praticamente a destruição da minha família”, reclama o pai.
Segundo Bonfim, além de ter sido obrigado a se separar do filho e da esposa, perdeu quase todos os clientes que freqüentavam seu pequeno ponto comercial. “As pessoas têm até medo de comer uma galinha de molho pardo aqui e se contaminar”, desabafa, dizendo que a pior preocupação hoje é a saúde de seu filho. “Se eu morrer amanhã com 47 anos já aproveitei, mas ele ainda está no início da vida”.
***INDENIZAÇÕES
Somente após a conclusão dos inquéritos policial e civil, cujo culpados serão nomeados, os moradores poderão entrar com uma ação de perdas e danos. “Esperamos que até o final do mês essa empresa do Ceará divulgue quem compra o endosulfan (I e II)”, afirma confiante Rodrigues. Para confirmar as análises realizadas pela Cetrel, a comunidade local, que conta com o auxílio de um advogado particular, está verificando a possibilidade da contratação de um bioquímico e toxicologista da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), cujos custos seriam pagos pelo próprio Ministério Público.





__________________________________(Esta é uma deformação congênita ocasionada por organoclorado)







Fonte:Correio da Bahia;Aqui Salvador(só o texto)
Fotos ilustrativas:Google

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