sábado, 31 de maio de 2008

Grupo se acorrenta em protesto contra contaminação

Manifestantes exigem do MPE identificação dos responsáveis por despejo de produtos químicos em loteamento de Camaçari


Mariana Rios
Quase dois anos após o despejo clandestino de produtos químicos no Loteamento Parque Real Serra Verde, em Camaçari, os 300 moradores da região exigem um desfecho para o caso e a identificação dos criminosos. Um grupo deles está acorrentado desde a manhã de ontem às grades da sede do Ministério Público Estadual (MPE), em Nazaré. Os manifestantes contam que tiveram a rotina alterada desde o incidente: os animais morreram, estão impedidos de plantar e comercializar o produto do cultivo e até consumir água de cacimba. Eles relatam ainda que enfrentam problemas de saúde e seqüelas por causa da contaminação.
Na vigília, estão idosos, crianças e adultos, munidos de colchonetes e “quentinhas” para enfrentar dias de protesto. Ontem à noite, o grupo foi recebido pelo procurador geral de justiça, Lidivaldo Britto, que pediu o retorno dos manifestantes às suas casas. “A comunidade vai permanecer. Vamos acompanhar a movimentação aqui no MPE. O procurador geral garantiu que amanhã (hoje) entraria em contato com o promotor do caso para ver o que pode ser feito”, explicou o líder comunitário Arailton Rodrigo. A reportagem tentou entrar em contato com o promotor de Camaçari, Luciano Taques Ghignoe, mas não obteve sucesso.
Calcula-se que mais de dez mil litros de um coquetel de substâncias tóxicas, entre elas os organoclorados Endosulfam I e II (usados na composição de pesticidas), foram jogados na entrada do loteamento em junho de 2006. A área atingida, de aproximadamente dez mil metros quadrados, fica a 100m da Estrada da Cascalheira, no município de Camaçari. Cerca de 60 famílias foram atingidas.
Como a investigação conduzida pelo MPE ainda não apontou os culpados pelo crime, os moradores resolveram radicalizar para pressionar a conclusão da apuração. Em fevereiro, o mesmo tipo de protesto foi feito na sede do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), que representa 54 empresas do Poló Petroquímico. Na oportunidade, os moradores cobraram contrapartida financeira para os prejuízos, além de atendimento médico multidisciplinar.
Em 22 de fevereiro, a Justiça acatou o pedido do MPE e obrigou que a prefeitura de Camaçari prestasse assistência médica aos moradores em 30 dias. Em maio, a obrigação de assistência foi ampliada para o estado e a União. Segundo Rodrigo, a comunidade não foi atendida plenamente após determinação. “Estão desrespeitando uma ordem judicial”, denunciou.
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ENTENDA O CASO
O descarte ilegal foi feito na noite de 21 de junho de 2006. O crime ambiental matou animais domésticos e selvagens, além de causar mal-estar em mais de 40 pessoas, que relataram sintomas como dor de cabeça, náuseas, vômitos e irritação nos olhos. O forte odor, semelhante ao de ovos podres, atingiu principalmente os moradores do Loteamento Parque Real Serra Verde, em Camaçari. Equipes do Centro de Recursos Ambientais (CRA), da Secretaria Municipal de Saúde, da Empresa de Proteção Ambiental S/A (Cetrel) e do Pólo Petroquímico estiveram no local para avaliar os danos causados pelo coquetel químico. A análise do líquido feita pela Cetrel constatou a presença de 15 substâncias tóxicas, a maioria produzida no pólo, à exceção de Endosulfam I e II.

Fonte tirada do jornal"Correio da Bahia",dia 27 de maio de 2008

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